A História Possível

Desde a Antiguidade que se conhecem médicos escritores. Os seus nomes estão na memória de todos aqueles que, hoje, lhe continuam os passos no sentido do humanismo, da procura da verdade, do bem e da beleza.
Como dizia um célebre médico, escritor e artista português do princípio do século XX, o Prof. Abel Salazar – «médico que só sabe medicina, nem medicina sabe!».
Por isso, não é de estranhar que no já distante ano de 1955, um punhado de médicos escritores tenha tido a ideia de procurar juntar numa associação, todos os confrades dos vários países e tenha assim constituído a chamada Federação Internacional das Sociedades dos Escritores Médicos (FISEM).
Entre esse punhado de homens, encontravam-se André Soubiran, o inesquecível autor dessa obra magnífica «Hommes en blanc», os professores italianos Nasi e Lombroso, os belgas Sévery e Thieret, os suiços Junod e René Kaech (poliglota que dominava o português). Todos eles contaram, na altura, com o apoio de eminentes escritores franceses da Academia de Medicina.

André Soubiran

Logo no ano seguinte à constituição da FISEM, realizou-se o seu primeiro Congresso, em São Remo (Itália), que contou com a presença de um razoável número de médicod escritores europeus, oriundos da França, Suiça, Bélgica e Itália, encontrando-se entre eles o Dr. Mirko Skoicz que se fez acompanhar pela sua mulher, a conhecida e badalada actriz de cinema daquela época, a italiana Gina Lollobrigida que, seguramente, com a sua beleza e a sua fama, obscureceu as qualudades literárias de seu marido…

Existindo escassos documentos e sendo grande o desgaste da capacidade mnemónica dos nossos colegas mais velhos, tornou-se impossível para nós, pobres historiadores, conhecer com exactidão os nomes dos presidentes da FISEM, desde a sua fundação.
Desde a fundação da FISEM, passaram a realizar-se congressos anuais e a cada ano que passava ia aumentando, se não o número dos participantes, pelo menos o número dos países aderentes.
Aquando da fundação da FISEM havia poucas Sociedades nacionais de escritores médicos, o que os isolava muito em relação aos seus confrades e os levava a aproximarem-se de outro tipo de sociedades que lhe permitissem um contacto maior entre eles, o mesmo é dizer, entre todos aqueles que destinavam parte do seu tempo à nobre missão da escrita ou das artes.
Muitos destes médicos escritores de então, pertenciam ao PEN Club e terá sido através dos membros desse clube que foram sabendo uns dos outros e foram nascendo as sociedades nacionais.
Em 1955, quando se fundou o FISEM, sabemos que só a França, a Itália, a Suiça e a Bélgica possuíam Sociedades Nacionais. Mas logo no ano de 1957, se lhe juntou a Grécia. E depois, foram aparecendo outras sociedades, no Brasil, Argentina, Venezuela, Peru e Portugal.
Mais à frente, trataremos destas sociedades, em particular.
Em 1967, em Châtel-Guyon, houve um encontro amigável, organizado pelos Laboratórios Mauvernay, em que se encontraram Paul Noel e Alfred Rottler e as médicas escritoras Dr.a Lichdi e Dr.a Elsa Pereira d’Oliveira, de nacionalidade holandesa, apesar do nome ser inteiramente português, honrando assim os seus antepassados, judeus portugueses que tinham fugido para a Holanda, em virtude das perseguições da Inquisição.
Quatro meses após este encontro, a Dr.a Elsa Pereira d’Oliveira, fundou na Holanda o Grupo Penaescula que passou a reunir os médicos escritores holandeses.
No Congresso de Varsóvia, em 1973, foi proposto pelo médico polaco Dr. Adam Baron e aceite por todos, que a designação de FISEM, Fédération Internationale des Sociétés des Écrivains Médecins, de que era presidente o francês Dr. Diamant Berger, fosse substituída pela designação de UMEM, Union Mondiale des Écrivains Médécins.
A sua concretização só viria a verificar-se com a apresentação dos estatutos no Congresso de Lugano, em 1974, tendo sido eleito seu primeiro presidente o suíço René Kaech.

1.º Comissão Directiva da UMEM

  • Presidente: Rene Kaech, Basileia
  • Secretário Geral: Alfred Rottler, Nuremberga
  • Secretária literária: Marguerite de Miomandre-Liegeois, Bruxelas
  • Tesoureiro: Franchini Agostini, Lugano
    Dr. Francesco Bronda, San Remo
    Dr. Gilbert Doukan, Paris
    Dr. Jerzy Lutowski, Varsovia
    Dr. Gerhard Vescovi, Boblingen/Estugarda
  • Presidente internacional e Co-fundador da Federação Internacional dos Escritores Medicos: Dr. Lucien Diamant-Berger, Paris
  • Presidente fundador da UMEM: Dr. Adam Baron, Wroclaw
  • Secretário honorário: Dr. Paul Noel, Chaville/Paris

Deve realçar-se o papel do Dr. Paul Noel, secretário geral do GEM e membro do PEN Club desde 1950, que ajudou fortemente a estabelecer laços fraternos entre colegas de vários países sul americanos, muito especialmente com o Dr. Eurico Ribeiro Branco, que em 1965, viria a fundar a SOBRAMES, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.

A finalidade da UMEM é permitir aos seus membros um melhor conhecimento entre todos, estabelecendo laços de amizade e compreensão entre os confrades de nacionalidades diferentes, favorecer a sua actividade literária, ajudar na difusão das suas obras, ajudar nas relações de cada um com as instituições internacionais com acção educativa ou cultural e, principalmente, organizar os congressos internacionais, anuais, sem distinção de raças, de religião, nem finalidade política.
Em 1981, a belga Marguerite de Miomandre-Liégeoistomou posse do lugar de Presidente da UMEM, em sucessão de René Kaech.

Desde 1984, a UMEM foi enriquecida com a criação da UMAM, União Mundial dos Artistas Médicos, constituída por um grupo de pintores, gravadores, escultores e músicos.

Foi o italiano Prof. Carlo Contini que se encarregou da direcção da
UMAM, assistido pelos italianos Wilmo Cappi e Gian Vicenzo Omodei Zorini e pelo célebre biologista e pintor francês, Aimé Benichou.

Em 1987, após o contencioso havido entre a UMEM e a organização do Congresso de Barcelona, Marguerite de Miomandre abandonou o seu lugar e foi eleito presidente da UMEM, o francês Bernard Schmitt.

Em 1997, a presidência da UMEM passa para o suíço Edouard Kloter, após doença e morte de Bernard Schmitt. O novo presidente aceitou o lugar na condição de o exercer poucos anos.

Sendo assim, no Congresso de 2002, em Bad Sackingen, foi eleito presidente o português Carlos Vieira Reis, sendo marcada a sua posse para 2004, aquando da realização do Congresso em Portugal.

Não tendo a UMEM finalidade política, nunca produziu textos que pudessem ser interpretados como tomada de posição política. Contudo, durante o Congresso de Atenas, a assembleia geral decidiu, pela primeira vez, redigir uma declaração de fundo humanitário e dirigi-la aos políticos de todo o mundo.

Depois dos ataques terroristas contra as torres de New York, pareceu-nos altura de reflectir nas razões dessas acções e avaliar as consequências que daí poderiam advir, com o aparecimento e desenvolvimento de uma beligerância em cadeia e de um ódio desenfreado a percorrer um mundo já de si bastante desequilibrado.
Esta mensagem teve resposta apenas da parte de Blair (U.K.), Rau (Alemanha) e Deiss (Suiça).

Mais uma vez se prova que a voz dos médicos (mesmo quando literária), pelo menos aparentemente, não conta senão quando trata ou curar, mesmo que o estado actual do mundo, comprove, à evidência, a nossa posição.